Como se não houvesse amanhã.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

CARTA DE UMA MÃE COM ALZHEIMER PARA SUA FILHA! VALE A PENA LER


Querida filha, escute com atenção o que tenho para falar. No dia que esta doença se apoderar totalmente de mim e eu não for mais a mesma, tenha paciência e compreenda-me. Quando eu derrubar comida sobre minha roupa e esquecer como calçar meus sapatos, não perca a sua paciência.
Lembra-te das horas que passei a ensinar-te essas mesmas coisas.
Se ao conversar contigo repito as mesmas palavras e já sabes o final da historia, não me interrompas e escuta-me. Quando eras pequena tive que contar-te mil vezes a mesma historia para que dormisses.
Quando fizer as minhas necessidades em mim, não sintas vergonha nem fiques chateada, pois não posso controlar-me. Pense em quantas vezes, quando eras uma menina, eu te limpei e te ajudei quando também não conseguias controlar-te.
Não te sintas triste ao me ver assim. É possível que eu já não entenda as tuas palavras, mas sempre entenderei os teus abraços, teus carinhos e beijos.
Eu desejo-te o melhor para a tua vida com todo o meu coração.
Da sua mãe!”



Na semana passada, por pouco, o Senhor não chamou a minha vozinha para Si. De repente suas forças se acabaram, o rosto ficou pálido, a pressão subiu e o coração desacelerou. Sinceramente, eu não queria que ela morresse. Eu sei que ela já tem 90 anos. Eu sei que é algo natural. Mas eu a amo, e isso quando tiver que acontecer, vai doer.

Ela não me reconhece, nem sempre consegue concluir as frases, inventa palavras como se fossem do nosso vocabulário, e não faz associações corretas das coisas. Usa fraldas geriátricas, não caminha sozinha, não toma banho sozinha e nem se deita sozinha.

Eu, minha mãe, minha irmã e uma auxiliar nos revezamos no cuidado para com ela. Abrimos mão de nossas horas de lazer, sono para cuidarmos dela. No começo foi difícil. Na verdade, nem sei o que foi mais difícil. No início, quando ela ainda caminhava e fazia algumas atividades, tínhamos que ficar atentas, pois ela misturava margarina no café, pensando ser açúcar, e guardava coisas onde ninguém jamais poderia imaginar. Não aceitava ser contrariada, pois acreditava que não estava doente. Perguntava as mesmas coisas em uma fração curta de tempo. E não havia quem tivesse paciência em responder a cada solicitação daquilo que já havia sido respondido.

Era difícil aceitar que aquela pessoa que sempre foi forte, que nos criou, agora era quem dependia de nós. E ainda hoje, olhando para ela, entendo a sua doença, sem realmente entender.

Ela me ajudou nos primeiros passos, me conduzia ao colégio, à natação, à igreja. E hoje, ela é quem precisa dos meus braços para sair do lugar. Ela preparava meu café da manhã bem cedinho, fazia almoço, o café da noite, e agora, somos nós que preparamos a sua refeição. Me corrigia, me ensinava,mas agora, nem sabe o que diz! E não sabe que não sabe o que diz.

O Alzheimer é uma doença que machuca mais os familiares do que o próprio doente. Mas uma coisa é certa: através do Alzheimer nós descobrimos o verdadeiro amor.

Eu amava a minha vó . Pelo menos, eu achava que amava. Amava, mas não tinha o costume de dizer isso a ela. Pelo menos, a partir da minha adolescência, não tinha o costume de enchê-la de beijos e abraços. Eu a amava, e amava viver a minha própria vida. Eu a amava, mas perdia a paciência quando ela começava a resmungar. Eu a amava talvez por estar acostumada com a presença dela em minha vida.

Mas, com o Alzheimer, tudo mudou. Primeiro vivenciei um tipo de cansaço, de revolta. Eu queria viver minha própria vida, mas não podia. Até que lembrei nos ensinamentos de Cristo, e procurei não mais reclamar. Depois, o Senhor falou ao meu coração. O Senhor me ensinou o verdadeiro amor.

Nesse processo de aprendizagem pude perceber a fragilidade da minha vó. Sua dependência, sua falta de consciência, a regressão de sua vida, a solidão. O Senhor me ensinou a cultivar um amor que, de fato, não pode esperar nada em troca. E por que dizer “de fato”? Porque em qualquer relacionamento você trata a pessoa bem e espera ser bem tratada também. Mas, minha vó nem sabe quem sou eu!

O Senhor me mostrou como amar (como diz uma canção) “como se não houvesse amanhã”. Afinal, a realidade é exatamente essa. Ainda que seja para qualquer um de nós, para um idoso, fica ainda mais evidente.

Aprendi a todos os dias beijá-la e a dizer “eu te amo” . Não sei quando o Senhor a chamará, mas quero ter a certeza de que fiz o melhor por ela, e ela, que tanto me amou, também foi amada por mim.


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