“CARTA DE UMA MÃE
COM ALZHEIMER PARA SUA FILHA! VALE A PENA LER
Querida filha, escute com atenção o que tenho para falar. No dia que esta doença se apoderar totalmente de mim e eu não for mais a mesma, tenha paciência e compreenda-me. Quando eu derrubar comida sobre minha roupa e esquecer como calçar meus sapatos, não perca a sua paciência.
Lembra-te das horas que passei a ensinar-te essas mesmas coisas.
Se ao conversar contigo repito as mesmas palavras e já sabes o final da historia, não me interrompas e escuta-me. Quando eras pequena tive que contar-te mil vezes a mesma historia para que dormisses.
Quando fizer as minhas necessidades em mim, não sintas vergonha nem fiques chateada, pois não posso controlar-me. Pense em quantas vezes, quando eras uma menina, eu te limpei e te ajudei quando também não conseguias controlar-te.
Não te sintas triste ao me ver assim. É possível que eu já não entenda as tuas palavras, mas sempre entenderei os teus abraços, teus carinhos e beijos.
Eu desejo-te o melhor para a tua vida com todo o meu coração.
Da sua mãe!”
Na semana passada, por pouco, o
Senhor não chamou a minha vozinha para Si. De repente suas forças se acabaram,
o rosto ficou pálido, a pressão subiu e o coração desacelerou. Sinceramente, eu
não queria que ela morresse. Eu sei que ela já tem 90 anos. Eu sei que é algo
natural. Mas eu a amo, e isso quando tiver que acontecer, vai doer.
Ela não me reconhece, nem sempre
consegue concluir as frases, inventa palavras como se fossem do nosso
vocabulário, e não faz associações corretas das coisas. Usa fraldas geriátricas,
não caminha sozinha, não toma banho sozinha e nem se deita sozinha.
Eu, minha mãe, minha irmã e uma
auxiliar nos revezamos no cuidado para com ela. Abrimos mão de nossas horas de
lazer, sono para cuidarmos dela. No começo foi difícil. Na verdade, nem sei o
que foi mais difícil. No início, quando ela ainda caminhava e fazia algumas
atividades, tínhamos que ficar atentas, pois ela misturava margarina no café,
pensando ser açúcar, e guardava coisas onde ninguém jamais poderia imaginar.
Não aceitava ser contrariada, pois acreditava que não estava doente. Perguntava
as mesmas coisas em uma fração curta de tempo. E não havia quem tivesse
paciência em responder a cada solicitação daquilo que já havia sido respondido.
Era difícil aceitar que aquela
pessoa que sempre foi forte, que nos criou, agora era quem dependia de nós. E
ainda hoje, olhando para ela, entendo a sua doença, sem realmente entender.
Ela me ajudou nos primeiros
passos, me conduzia ao colégio, à natação, à igreja. E hoje, ela é quem precisa
dos meus braços para sair do lugar. Ela preparava meu café da manhã bem
cedinho, fazia almoço, o café da noite, e agora, somos nós que preparamos a sua
refeição. Me corrigia, me ensinava,mas agora, nem sabe o que diz! E não sabe
que não sabe o que diz.
O Alzheimer é uma doença que
machuca mais os familiares do que o próprio doente. Mas uma coisa é certa:
através do Alzheimer nós descobrimos o verdadeiro amor.
Eu amava a minha vó . Pelo menos,
eu achava que amava. Amava, mas não tinha o costume de dizer isso a ela. Pelo
menos, a partir da minha adolescência, não tinha o costume de enchê-la de
beijos e abraços. Eu a amava, e amava viver a minha própria vida. Eu a amava,
mas perdia a paciência quando ela começava a resmungar. Eu a amava talvez por
estar acostumada com a presença dela em minha vida.
Mas, com o Alzheimer, tudo mudou.
Primeiro vivenciei um tipo de cansaço, de revolta. Eu queria viver minha
própria vida, mas não podia. Até que lembrei nos ensinamentos de Cristo, e
procurei não mais reclamar. Depois, o Senhor falou ao meu coração. O Senhor me
ensinou o verdadeiro amor.
Nesse processo de aprendizagem
pude perceber a fragilidade da minha vó. Sua dependência, sua falta de consciência,
a regressão de sua vida, a solidão. O Senhor me ensinou a cultivar um amor que,
de fato, não pode esperar nada em troca. E por que dizer “de fato”? Porque em
qualquer relacionamento você trata a pessoa bem e espera ser bem tratada
também. Mas, minha vó nem sabe quem sou eu!
O Senhor me mostrou como amar (como
diz uma canção) “como se não houvesse amanhã”. Afinal, a realidade é exatamente
essa. Ainda que seja para qualquer um de nós, para um idoso, fica ainda mais
evidente.
Aprendi a todos os dias beijá-la
e a dizer “eu te amo” . Não sei quando o Senhor a chamará, mas quero ter a
certeza de que fiz o melhor por ela, e ela, que tanto me amou, também foi amada
por mim.
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