QG16- Em busca das águas

quinta-feira, 27 de junho de 2013

   Lembro- me de estar correndo, talvez eu corra desde que descobrir que estava incompleta.Juntei-me a uma multidão, e o que fazíamos de melhor era correr, passamos por muitos lugares íngremes,vales e montanhas, com a certeza que existia algo além de tudo o que víamos.
   Todos os tipos de pessoas faziam parte da multidão, noivas e noivos ,dava pra perceber pelas suas roupas ,mesmo sujas dava notar a linda renda que compunha o vestido da noiva. Também tinha muitos empresários que devido a corrida já haviam retirado seus ternos, e as gravatas vinham penduradas no pescoço,pelas suas expressões faciais notava -se claramente a sede de algo, a busca por realização,famílias inteiras corriam juntamente conosco,pais,mães filhos e filhas, idosos ,cegos que eram conduzidos por amigos e parentes, paraplégicos que eram carregados,suas roupas surradas e algumas rasgadas mostrava claramente que estavam nessa corrida há mais tempo do que eu.
 
   Na verdade nem todos sabiam o procuravam ou para onde iam. Depois de um determinado tempo quando chegamos ao deserto o  caráter de muitos foi provado, uns desistiram ,outros conseguiram se estabelecer ali e decidiram ficar, revelaram-se muitos inimigos,mas conheci muitos amigos.
    O que me dava esperança de chegar há um lugar seguro era a luz do céu que diferente do sol brilhava mais forte cada vez que corríamos, aquilo era pra mim um sinal de que não estávamos sós, que havia um propósito pra tudo aquilo.Caí muitas vezes ,meu vestido já estava sujo demais,mas toda vez que alguém se revelava ser um amigo e me estendia a mão, eu olhava para o céu e simplesmente sorria.
   Foi muito difícil em alguns momentos, reclamamos e murmuramos, trapaceamos também,nossas mãos estavam sujas pelas nossas atitudes e também pela poeira do deserto. Vi muitos amigos ficarem pra trás, me penalizei com eles e prometi-lhes que voltaria para buscá-los,cortava meu coração,mas era preciso.
 
    Quando  o deserto passou, paramos, retomamos fôlego e voltamos a correr, meus pés ja doíam e ficava cada vez mais difícil de respirar, minhas vestes transpareciam como eu estava por dentro, aquela busca louca por algo que eu nem sabia o que era, estava acabando comigo,mas eu precisava continuar. A iluminação que vinha dos céus entrava por entre as brechas das grandes árvores, aquecia meu coração e fortalecia minha fé, eu sabia que estava chegando.
   Quando já nossos lábios rachados pela sede e pelas múltiplas palavras de derrota, frustração e reclamação começaram a sangrar, meus olhos já embaçados pelo suor impedia minha visão, até que minhas pernas simplesmente pararam, esfreguei os olhos e o que vi superou todas as minhas expectativas,olhei para os lados e ja não éramos muitos, mas os que permaneceram caíram pelo chão diante da beleza daquele lugar. Agora meus olhos estavam sendo invadidos por uma onda de lágrimas que corriam em minha face, lembro-me de ter pensado " Valeu a pena".
 
    Meus pés vacilantes encontraram um lar,fui andando em direção há um grande lago sem fim. A beleza da natureza e o cheiro das flores me fizeram ter certeza que eu pertencia àquele lugar, sem mais esperar todos nós mergulhamos e nos lavamos, a água em contato com minha pele era um esfoliante natural que me fez voltar as raízes, a felicidade vinha estampada em nossos rostos por um sorriso largo que não tinha hora para ir embora. O sentimento de nadar,era pra mim o mesmo que voar, eu me senti livre, as águas recuperavam minhas forças e eu pude me deleitar naquela fontes que partiam de uma imensa rocha, quando passei a boiar ,olhei para os céus e senti  como se alguém retribuísse meu sorriso de gratidão, nem me lembrava mais das coisas passadas.

   Alguns afoitos se afogavam pensando que já conheciam àquelas águas profundas, uns ficaram só nas beiradas bebendo do pouco que chegava na terra, outros só nadavam na superfície ,julgando ser ali um lugar de conforto, mas eu e uns outros poucos sentíamos que tinha mais, uma leve correnteza nos levava em direção á grande rocha , com muito cuidado e ajudando uns aos outros ,resolvemos passar por debaixo d'água , havia um enorme buraco de onde vinha a correnteza e nadamos até o outro lado da rocha. A vista era 3 vezes mais linda e pura que a do outro lado ,nadamos até a beira e conforme íamos saindo de dentro das águas nossas vestes ficavam mais brancas. Juntamente com com meu vestido minha alma também resplandecia, a água não tinha apenas me lavado da sujeira que eu adquiri por tantos anos, mas também me fortaleceu e eu passei a sentir coisas diferentes.
 
       Olhamos a nossa volta ,mas não havia outras pessoas, apenas cestos, baldes e muitos recipientes de água, a princípio não tinha entendido, mas minha visão estava sendo ampliada e como um véu que havia se retirado do meu coração e olhos passei a enxergar tudo.
   A paisagem a nossa frente por incrível que pareça era a mesma por onde  havíamos chegado, já éramos poucos e outros ainda, por mais que tinham entendido tudo, resolveram voltar por não concordar com a missão que nos estava proposta.
   A missão era simples, iríamos encher aqueles recipientes com  água e partiríamos novamente para o mesmo lugar, subiríamos montanhas ,desceríamos vales, atravessaríamos dessertos mas agora com uma motivação diferente, já tínhamos encontrado nosso lar, nossa casa, mas devíamos ajudar outros tantos que estavam vindo pelo caminho. A água nas vasilhas ,seria para saciar a sede e fortalecer aqueles que se encontravam fracos e debilitados, e também para nos  fazer lembrar que de onde veio aquela tinha muito mais.

   Agora muito mais fortes não deixaríamos ninguém para trás, eu iria buscar meus amigos que ficaram no meio  do caminho e juntos chegaríamos no lugar de repouso eterno. Coloquei minha vasilha nas costas e o peso ,não se comparava a toda a carga que outrora, eu carregava. E cada vez que as águas se moviam e nos molhava , limpava nossas vestes empoeiradas novamente pela sujeira e nos lembrava de onde viemos, onde chegamos, quem viemos ajudar e florescia o caminho por onde passávamos para nos mostrar por onde deveríamos voltar.
 
Por Marcelle Santos Fernandes
 
 

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